sexta-feira, 11 de setembro de 2009
A Chuva
Terminou o livro já passava das 02 da manha, olhou pela janela, a chuva não dava trégua, não era o momento certo pra chover tanto dessa maneira.
Ela já tinha medo da chuva ininterrupta, quanto mais agora nesses dias em que aquele sentimento de vazio se tornava estonteante.
Pensou na idade em que se encontrava, não era tão velha, pelo contrário, era uma jovem com filhos e marido como todo mundo.
Pensou em tudo o que tinha, era o suficiente pra ser feliz, mas havia uma obstrução na felicidade dela.
Desde criança sentia aquele vazio. Primeiro achou que era diferente, porque se sentia diferente, porque a tratavam diferente. Depois quando nos altos de sua adolescência, onde todos os hormônios estão em ebulição, descobriu que era igual a todas as crianças com pais separados.
Foi quando ela decidiu que seria “diferente”, a verdade é que ela desejava não alcançar a expectativa de sua mãe, que ela julgava ser a culpada de todos os problemas.
Sentou outra vez no sofá, lembrou das vezes que fez sua mãe chorar, agora que tinha filhos entendia perfeitamente as dores de uma mãe. Lembrou de como sua mãe praguejava “... você ainda vai ter filhos, tomara que te façam isso e aquilo!”. Ela e o vazio seguiram lado a lado, durante anos. Foi companheiro dos baseados, das bebedeiras, das perdas, das festas, na hora de ir embora, na hora do parto.
Abraçou o livro com força, a história que leu, fez repensar suas atitude durante toda a vida. Fora auto destrutiva quem sabe. Destruiu mais amores do que a si mesmo, quem sabe destruiu sempre e tudo ao seu redor.
Sentiu uma lágrima amarga, tomou mais um gole do café preto e forte, e se perguntou por que tudo tinha que ser forte. Derrepente notou que fora ela quem nasceu desprovida de força. Fazia sentido agora, tudo sempre lhe pareceu muito maior, mais pesado, mais forte.
Guardou o livro bem lá no fundo da gaveta pra nunca mais ler. Junto foram as memórias bem no fundo do obscuro, secou os olhos e foi deitar com a certeza, de que nunca ninguém tivera culpa da sua loucura, ninguém, nem ela.